Dai-nos “um coração contrito e humilhado” (Sl 51[50],19b).
Prezados
irmãos e irmãs da Igreja de Deus que se faz presente na Diocese de Jundiaí:
Vivemos o
tempo litúrgico da Quaresma, um “tempo favorável” da graça (cf. 2Cor 6,2) e da
renovação. Dado que a falta da verdadeira comunhão de vida com Deus e com o
nosso próximo é uma tentação real para todos nós, temos necessidade de ouvir,
principalmente na Quaresma, o apelo do Apóstolo Paulo: “Em nome de Cristo, vos
suplicamos: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20b). Sim, queridos irmãos e
irmãs diocesanos: temos necessidade constante da conversão para não cairmos na
indiferença nem nos fechar em nós mesmos.
Dentro da
programação para o Jubileu de Ouro da Instalação Canônica da nossa Diocese, que
acontecerá no dia 06 de janeiro de 2017, o ano de 2015 nos é apresentado como o
“Ano da Santificação”. Somos convidados a aprofundar e assumir cada vez mais a
vocação de sermos discípulos e discípulas de Jesus Cristo. “Na encarnação, na
vida terrena, na morte e ressurreição do Filho de Deus, abre-se definitivamente
a porta entre Deus e o homem, entre o céu e a terra. E a Igreja é como a mão
que mantém aberta esta porta, por meio da proclamação da Palavra, da celebração
dos sacramentos, do testemunho da fé que se torna eficaz pelo amor (cf. Gl 5,
6)” (Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2015). Celebrando os
sacramentos, a Igreja renova a presença viva de Jesus Cristo, que oferece a
salvação para todos.
Quando
ofendemos a Deus e ao próximo, a Igreja intercede por nós, pecadores, invocando
sobre seus filhos a misericórdia divina e obtendo o perdão de nossas ofensas
mediante o Sacramento da Penitência, isto é, da Conversão, ou da Reconciliação
(também chamado Sacramento da Confissão, porque o penitente declara seus
pecados diante do presbítero). Na Diocese de Jundiaí, uma das atividades deste
ano é a “Jornada dos Sacramentos” e neste tempo da Quaresma, que vai até a
Páscoa, as paróquias oferecem várias celebrações penitenciais (cf. pág. XX
desta edição do Jornal O Verbo), a fim de que nos reconciliemos com Deus e com
a Igreja.
Queridos
irmãos e irmãs diocesanos: “não recebamos em vão a graça de Deus” (cf. 2Cor
6,1). Descubramos o extraordinário valor do Sacramento da Reconciliação,
pedindo esse dom precioso para nós mesmos e também para os outros.
Infelizmente, alguns não participam deste sacramento por falta de fé ou
disposição, por ter vergonha de confessar os próprios pecados diante do
ministro de Deus, o presbítero, ou por acharem que não tenham nenhum pecado.
São João nos adverte: “Se dissermos que não temos pecado, estamos enganando a
nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1,8). Ajuda-nos muito a tomarmos
consciência das nossas faltas graves e menos graves (pecado mortal ou venial),
o exame de consciência.
Recentemente,
o Papa Francisco, falando aos Cardeais da Cúria Romana (22/12/2014), detectou
quinze graves “doenças e tentações que enfraquecem o nosso serviço do Senhor”.
São faltas que afetam nosso relacionamento com Deus e com os outros na família,
na Igreja e na sociedade. O seguinte “catálogo” das doenças pode servir como um
ótimo roteiro para um profundo e sério exame de consciência.
1) Sentir-se imortal ou indispensável:
centrar toda a vida em si mesmo;
2) “Martismo”: a doença de Marta (cf. Lc
10,38-42), a doença do excesso de trabalho, pois a falta de repouso leva ao
stress e à agitação;
3) “Coração de pedra” (cf. Mc 10,5), sem
sensibilidade e entusiasmo, chegando a perder a serenidade interior;
4) O excessivo planejamento, como se toda a
ação do Espírito Santo dependesse dos nossos planos e dos nossos cálculos;
5) Má coordenação: quando os membros de uma
comunidade perdem a comunhão e a harmonia entre si;
6) O “Alzheimer espiritual”: esquecer a
história do primeiro amor, do encontro pessoal e profundo com Deus;
7) Rivalidade e vanglória: quando o
objetivo da vida é a busca de títulos e privilégios;
8) “Esquizofrenia existencial”: uma vida
vivida com falsidade e hipocrisia;
9) Bisbilhotices, murmurações e críticas:
as fofocas matam o irmão;
10) Cortejar os chefes, buscando tirar
proveito para si próprio;
11) Indiferença perante os outros: o ciúme e a
inveja pelo outro;
12) Cara fúnebre: sempre triste, desanimado,
pessimista;
13) Acumular bens materiais: a ganância;
14) Círculos fechados: viver em grupinhos,
excluindo os outros;
15) O lucro mundano e exibicionismo: quando o
serviço é transformado em poder para obter lucros mundanos ou mais poder.
Um último
recado: ajuda muito no crescimento da vida cristã a direção espiritual. Não se
trata de confessar os pecados ao presbítero, mas de fazer um acompanhamento
espiritual com uma pessoa madura e experiente (um presbítero, um[a]
religioso[a], um[a] catequista, um[a] cristão[a] leigo[a]). É a arte de
conduzir as pessoas segundo a própria vocação, tendo como iluminação o
Evangelho e a Palavra da Igreja. Assim se transmitem valores e atitudes
cristãos aos orientados, principalmente para os que encontram dificuldades e
desafios no caminho da vida cristã.
“Senhor,
dai-nos um coração contrito e humilhado” (Sl 51[50], 19), participando
frutuosamente do Sacramento da Reconciliação.
Uma santa Quaresma para todos!
E a todos abençoo.
Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano de Jundiaí
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