A
copa do mundo vem se aproximando. Aos poucos vai nos envolvendo E não adianta
disfarçar, aparentando desinteresse. A verdade é que todos nos sentimos
escalados. Por mais que haja resistências, o espírito da copa vai contagiando o
povo brasileiro.
Até
a CNBB chegou cedo, fazendo seus comentários:
“De
todos os esportes, o brasileiro nutre reconhecida paixão pelo futebol.
Explicam-se, assim, a expectativa e a alegria com que a maioria dos brasileiros
aguarda a Copa do Mundo que será realizada em nosso país, pela segunda vez”.
Esta
a primeira constatação, que justifica as outras ponderações apresentadas na
nota da entidade, publicada ainda no dia 13 de março deste ano.
Mas
seria ingenuidade achar que um acontecimento tão amplo como este ficaria
limitado às suas dimensões esportivas. De resto, as repercussões da copa, além
do seu caráter esportivo original, acabam mostrando a indiscutível importância
do evento, em todos os setores da sociedade brasileira, que percebe os olhares
do mundo inteiro voltados para o nosso país.
O
fato é que a realização da copa se tornou um teste muito importante para o
Brasil. Seu resultado não vai se medir só pelo sucesso, ou insucesso, de nossa
seleção. Vai depender de como soubermos administrar as energias, desencadeadas
pelo clima de intenso envolvimento que a copa já está suscitando.
Neste
contexto, vale a pena deter-nos, com objetividade, a analisar as forças que
estão em jogo. Pois é imperativo constatar que todos, a seu modo, e dependendo
dos seus interesses, estão procurando faturar em cima da copa.
O
resultado mais positivo, que todos temos o direito de almejar, foi descrito
pela nota da CNBB, quando afirma: “Os brasileiros, identificados por sua
hospitalidade e alegria, saberão acolher aqueles que, de todas as partes do
mundo, virão ao nosso país por ocasião da Copa. Nossos visitantes terão a
oportunidade de conhecer a riqueza cultural que marca nossa terra, sua gente,
sua arte, sua religiosidade, seu patrimônio histórico e sua extraordinária
diversidade ambiental”.
Mas
já foram desencadeadas muitas outras expectativas, no contexto dos diversos
setores da sociedade. Algumas muito legítimas, outras nem tanto, e ainda
algumas francamente descabidas e prejudiciais ao bem comum de uma sociedade
democrática.
O
fato é que muitos querem faturar com a copa. As empresas querem lucrar. O
comércio espera aumentar suas vendas. Os trabalhadores percebem que a
oportunidade é boa para reivindicar aumento. Os políticos se acham no direito
de causar estrago no campo adversário e ao mesmo tempo fortalecer os seus
redutos. A cidadania também percebe que o ambiente explicita problemas que
demandam mobilizações populares para serem enfrentados adequadamente.
Tudo
isto tem o seu valor, e pode ter o seu espaço no âmbito da copa. Mas o que não
podemos permitir, como país, como nação, e como cidadãos, é a ação predatória,
irresponsável, injustificada, insensata, depravada, de pessoas e de grupos que
promovem saques, partem para atos de vandalismo, destroem patrimônio, partem
para a violência, pretendendo impor o clima de medo que lhes propicia uma
impunidade nociva e altamente perigosa para a manutenção da ordem
institucional.
Não
podemos permitir que a sociedade brasileira se torne refém do vandalismo
anárquico e criminoso. O espírito salutar da copa precisa exorcizar os que se
revestem de demônios vingadores de suas frustrações. A estes precisamos impor
com clareza e determinação a força da lei, exigindo que se retirem de campo!
E
como eles se aproveitam de manifestações pacíficas para puxar o manto da
legalidade sobre si mesmos, quem promove essas manifestações precisa ter bem
presente a responsabilidade cívica de não se deixar instrumentalizar por
bandidos que ameaçam a própria ordem democrática.
Que o clima salutar da copa nos livre de todas
as ambiguidades, e nos garanta o pleno sucesso deste evento que aguardamos com
tanta expectativa.
Dom
Demétrio Valentini
Bispo
de Jales (SP)
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