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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

A inveja

Caros amigos, William Shakespeare escreveu Otelo, o Mouro de Veneza em 1603 e nesta obra ele descreve os mecanismos da inveja. Otelo era um general reconhecido por seus triunfos em batalhas. Ao assumir a posição de chefe de Estado no Chipre, nomeia Cássio como seu braço direito. Mas suscita a inveja de Iago, que passa a conspirar contra ele. Iago destila uma suspeita mortal em Otelo, com o intuito de levá-lo a acreditar que sua mulher, Desdêmona, o trai com o tenente Cássio. Envenenado psicologicamente, Otelo mata a esposa. Porém, após descobrir que Desdêmona lhe era fiel e atormentado pelo remorso, Otelo tira a própria vida com um punhal. O interessante desse clássico da literatura é que podermos perceber um profundo paralelo entre as insinuações invejosas de Iago com a serpente do Jardim do Éden (cf. Gn 3,1).
A inveja pode ser entendida como uma tristeza, um ressentimento pelos dons – materiais e espirituais – concedidos por Deus a outrem: “Designa a tristeza sentida diante do bem do outro e do desejo imoderado de sua apropriação, mesmo indevida” (Catecismo da Igreja Católica, §2539). É por isto que para muitos místicos a queda de Lúcifer se deu justamente pela inveja que este teve dos dons dado por Deus ao homem que é a encarnação do Verbo: “Ora, Deus criou o ser humano incorruptível e o fez e o fez à imagem de Sua própria natureza: Foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo, e experimentam-na os que são do seu partido” (Sb 2,23-24). O personagem bíblico Caim também é sempre é lembrado como exemplo de inveja, pois matou seu irmão Abel (Gn 4).
A inveja não suporta o sucesso dos outros e não se conforma em ver alguém melhor do que ele mesmo. Está sempre com pessoas soberbas, que querem sempre ser melhores do que as outras em tudo, ou inseguras, fracassadas ou revoltadas, que, não conseguindo o sucesso das outras, ficam corroídas de inveja e desejando-lhes o mal. A inveja muitas vezes se disfarça de afeto, “sorrisos amarelos”, prudência, crítica construtiva e tem como filhas a maledicência, a competição egoísta, o ódio, a murmuração. Sem dúvida o remédio ao invejoso é buscar a prática da caridade, da humildade e do contentamento dos dons que Deus lhe concede. O padre Francisco Faus fez um paralelo entre o hino da Caridade de São Paulo (1Cor 13) com o hino da inveja, o qual transcrevo: “A caridade é paciente, ao passo que a inveja é irritada, revoltada e impaciente. A caridade é benigna, deseja o bem a todos, enquanto a inveja deseja e busca ativamente o mal para os outros. A caridade não é jactanciosa, não se ensoberbece; a inveja nasce da soberba, de uma exaltação orgulhosa do próprio “eu”. A caridade não é descortês; a inveja pode simular a cortesia, mas falta-lhe o âmago dessa virtude, que é o desejo de servir e tornar amável a vida aos outros. A caridade não é interesseira; a inveja só procura tirar vantagem de tudo e de todos. A caridade não se irrita nem guarda rancor, ao passo que a inveja cultiva o ressentimento e chega a convertê-lo em ódio. A caridade não se alegra na injustiça, mas compraz-se na verdade; a inveja compraz-se no infortúnio alheio e lança mão do fingimento e da calúnia. A caridade tudo desculpa, a inveja tudo critica, tudo julga e condena. A caridade tudo crê, o invejoso de tudo desconfia. A caridade tudo espera, a inveja tudo combate e despreza. A caridade tudo tolera, o invejoso não suporta nem aos outros nem a si mesmo; não sabe aceitar e amar a Vontade de Deus” (Francisco Faus. A Inveja, p. 38).
Padre Enéas de Camargo Bête

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